O “fordismo” na acepção
regulacionista

José Eli da Veiga

Departamento de Economia da FEA-USP

Publicado na Revista de Economia Política,
vol.17, n.3 (67), julho-set. 1997, pp: 63-70



No vigésimo aniversário da Teoria da Regulação, esta comunicação discute o valor heurístico da expressão fordismo. Foi em Paris, há exatos vinte anos, que essa idéia começou a adquirir uma aura conceitual.  Até então, fordismo era uma noção usada apenas para descrever uma fase avançada da racionalização do trabalho industrial, ou, no máximo, para evocar uma etapa superior do taylorismo. Mesmo em Gramsci (1934) a ênfase estava mais no rendimento fabril do operário do que em seu modo de consumo.[1]

A tese de Michel Aglietta, publicada em 1976, fez com que a idéia de fordismo se tornasse uma das fundações da Teoria da Regulação[2] e contaminasse, em seguida, diversas vertentes da Economia Política [3]. Tem sido usada em tão larga escala nos debates sobre as tendências atuais do capitalismo, que até pode parecer um capricho querer discutir seu significado. Mas um exame do uso ambíguo que se faz dessa expressão pode ajudar a realçar tanto as fragilidades quanto o potencial da abordagem regulacionista.

A compreensão atual

Em recente coletânea sobre o assunto, o entendimento regulacionista do termo 'fordismo' é enaltecido por ser usado para sintetizar um 'macrosistema' de 'acumulação intensiva' com 'regulação monopolista,' característico das economias centrais nas décadas de 50 e 60. Segundo Ash Amin (quem editou e introduziu essa coletânea), o forte da abordagem regulacionista não é o emprego do termo fordismo em outros níveis de análise,  como, por exemplo: a) enquanto processo de trabalho característico da produção de massa em linhas de montagem (paradigma industrial); b) como círculo virtuoso de crescimento impulsionado pela transferência de parte dos ganhos de produtividade aos salários (regime de acumulação); c) enquanto padrão institucional da coesão sistêmica obtida nos 'gloriosos' 1948-1973 (modo de regulação); e d) o tipo de sociabilização desses mesmos anos dourados ("mode of societalization," "Vergesellschaftungsmodi").[4] 

Ou seja, nessa perspectiva, o fordismo não é um conceito teórico, e sim uma maneira de caracterizar o "modo de vida total" do último auge cíclico do capitalismo (Harvey,1989:131). É na descrição analítica desse auge que são usados os dois conceitos básicos (unânimes) dos regulacionistas: 'regime de acumulação' e 'modo de regulação'.[5] Dependendo do autor, essa dupla vem complementada por conceitos complementares como 'paradigma industrial,' 'modo de sociabilização,' ou 'modo de desenvolvimento'.[6]

Não deixa de ser estranha a escolha do termo fordismo para simbolizar tanta coisa, por mais pioneira que possa ter sido a experiência empresarial de Henry Ford. O nome de Keynes, por exemplo, é tanto ou mais representativo do fenômeno que se procura realçar, como indica, aliás, a seguinte reflexão de um dos principais expoentes atuais da teoria da regulação.

"Ford e Keynes haviam percebido que a aceleração dos ganhos de produtividade provocada pela revolução taylorista levaria a uma gigantesca crise de superprodução se não encontrasse contrapartida em uma revolução paralela do lado da demanda. (...) Mas Ford e Keynes pregavam no deserto. (...) Os temores de Ford, de Keynes... e dos sindicatos diante do conservantismo liberal dos Hoover, Lloyd George ou Laval encontraram por isso, na Grande Depressão dos anos 30, naquela gigantesca crise de superprodução, uma trágica confirmação."  (Lipietz,1989:30-31)

E também não há como comparar Ford ou Keynes a fenômenos políticos como o "Welfare State" ou a Social-Democracia, quando se pretende caracterizar a coesão sistêmica do capitalismo em seus anos mais dourados. Foram estas as principais formas institucionais do compromisso que acabou permitindo a redistribuição dos ganhos de produtividade aos assalariados. A nível internacional, foram as instituições criadas nos acordos de Bretton Woods que regularam a expansão dos anos 50 e 60. De resto, os mecanismos reguladores conheceram graus diferentes de desenvolvimento, segundo os países, como enfatiza o próprio Lipietz:

"Por exemplo, depois da guerra e do período Roosevelt, os Estados Unidos sofreram um nítido retrocesso, com a Guerra Fria e o macarthismo. Mesmo as reformas de Kennedy e de Johnson (que foram depois o alvo de Reagan) não chegaram a fornecer ao povo americano uma previdência social equivalente à da Europa do norte. Quanto à França, só chegou à consumação do fordismo nos acordos de Grenelle, em junho de 1968. Acordos que encerravam os "acontecimentos de maio" - que podem ser vistos como o primeiro grande movimento de massa antifordista!" (Lipietz,1989:34)

Não é evidente, portanto, porque os os regulacionistas utilizam uma metáfora tão diminuta para se referir a algo tão amplo como o "modo de vida total" da Idade de Ouro. Talvez alguma pista possa ser encontrada numa volta à origem da teoria da regulação.

A pedra angular

Em Aglietta (1976:96), o fordismo é um novo estágio da regulação do capitalismo. Nesse estágio, a classe capitalista procura gerir a reprodução da força de trabalho assalariada por uma estreita articulação entre as relações de produção e as relações mercantis pelas quais os assalariados compram seus meios de consumo. O fordismo é, então, uma articulação entre processo de produção e modo de consumo, constituindo a produção de massa, que, por sua vez, é o conteúdo da universalização do assalariamento.

O fordismo é o conjunto das condições sociais que caracterizam o regime de acumulação intensiva. (Aglietta,1976:132) Enquanto o capitalismo transforma o processo de trabalho sem remodelar o modo de consumo, o regime de acumulação é extensivo. O novo estágio do capitalismo é atingido quando a acumulação não apenas transforma o processo de trabalho, mas, sobretudo, transforma o processo de reprodução da força de trabalho. (Aglietta,1976:60)

O critério de periodização dos estágios históricos do capitalismo baseia-se no conteúdo da mais-valia relativa. No primeiro estágio há transformação do processo de trabalho sem mudança profunda das condições de existência dos assalariados. No segundo, há rápida e concomitante mudança do processo de trabalho e das condições de existência dos assalariados. (Aglietta,1976:18)

Ou seja, para o fundador da Teoria da Regulação, enquanto predominava a mais-valia absoluta, o regime de acumulação era extensivo. Quando essa acumulação passou a se dar essencialmente pela redução do valor da força de trabalho - isto é, pela redução do tempo de trabalho socialmente necessário - tanto a produção quanto o consumo foram massificados e o regime tornou-se intensivo. É o conjunto das condições sociais desse estágio da regulação do capitalismo que ele inseriu no conceito de fordismo.

Diversas críticas a esse esquema analítico de Aglietta foram publicadas nos últimos cinco anos [7]. Uma delas refere-se à real prevalência, nos Estados Unidos, até a terceira década do século XX, de um regime de acumulação extensivo. Segundo Page e Walker (1995:9), o fenômeno que os regulacionistas entendem por acumulação intensiva é muito mais antigo do que a experiência de Henry Ford. Data, segundo eles, da fase que se seguiu à Guerra Civil.[8]

Uma segunda crítica refere-se diretamente à caracterização do regime de acumulação posterior ao início do século XX (intensivo) por meio da parábola do "fordismo." Trata-se, segundo Page e Walker, de uma visão muito inadequada do processo de mudança técnica e organizacional na indústria. [9]

E a principal investida realmente teórica de Page e Walker contra o regulacionismo aparece na terceira crítica, quando opõem uma ênfase na "mudança técnica" à ênfase regulacionista nas "instituições." [10]

Ou seja, Page & Walker apontam diversas incongruências na utilização da história dos Estados Unidos para construir os conceitos de regimes de acumulação "extensivo" e "intensivo," destacando a precariedade da noção de 'fordismo' e enfatizando a inadequação dessa teoria para uma interpretação do desenvolvimento econômico daquele país. Mas estas críticas não atingem o cerne da abordagem regulacionista. Quando finalmente abordam os conceitos básicos dos regulacionistas - "regime de acumulação" e "modo de regulação" - não vão muito além de uma preferência pela "mudança técnica" em vez das "instituições." E confirmam de duas maneiras um certo desdém pela dimensão macroeconômica. Primeiro, ao afirmarem que a preocupação com a compatibilização da produção e do consumo é apenas "neoclássica" ou "keynesiana." Segundo, ao minimizarem a relevância dos "modos de regulação." Estas duas características das críticas de Page & Walker estão ainda mais claras nos textos de Walker (1995) e Sayer & Walker (1995). [11] E no capítulo 5 do livro The New Social Economy (Sayer & Walker,1992), entitulado "Beyond Fordism and Flexibility," a completa separação entre "a produção"  e  "o resto" fica bem explícita. [12]

É perfeitamente aceitável que se faça esse "corte" entre 'a produção' e 'o resto' para aprofundar a análise. Mas não se pode tomar essas críticas à noção de fordismo como se fossem uma crítica muito rigorosa à Teoria da Regulação. Principalmente porque a noção de fordismo é menos importante que os conceitos básicos. Particularmente o de "modo de regulação,"   que, afinal, não chega a interessar esses críticos.

Alternativas

Se a idéia de 'fordismo' não é boa para caracterizar o regime de acumulação da fase mais recente do capitalismo (intensiva), e, muito menos, os trinta anos de gloriosa acumulação do capitalismo americano, torna-se necessário, então, reexaminar a natureza do regime de acumulação que predominou na segunda metade deste século, bem como do modo de regulação vigente na "idade de ouro."  Só assim será possível discutir (mais para frente) se as mudanças ocorridas nos últimos 20-25 anos de marasmo econômico permitem identificar a emergência de um novo modo de regulação (ou até, quem sabe, uma transição a um novo regime de acumulação).

É comum afrimar-se que a longa onda de prosperidade do pós-guerra foi seguida, a partir dos anos 1970, por um período de 'crise.' Entre inúmeros exemplos, pode-se considerar as análises de pós-marxistas que não usam a terminologia dos regulacionistas, mas chegam a conclusões bem similares (ou convergentes). Por exemplo, a abordagem norte-americana das 'estruturas sociais da acumulação' ("SSA approach"; Weisscopf ,1991) [13], que foi, aliás, incluída na ampla revisão dos regulacionistas feita por Jessop (1990).

O que Weisscopf chama de "estrutura institucional do modo de produção capitalista" é exatamente o que um regulacionista chamaria de "modo de regulação."  Para ele, a melhor maneira de caracterizar a estrutura institucional da 'idade de ouro' é descrevê-la como "welfare state capitalism."[14] E as mudanças nesse sistema institucional - do "welfare state capitalism" - teriam sido tão significativas que já seria possível afirmar que foi substituído por outro, chamado por Weisscopf de "global market capitalism."[15]

Esse contraste "welfare state/global market" para caracterizar o que o autor considera a "estrutura institucional" do capitalismo talvez se revele tão precária quanto a oposição "fordismo/pós-fordismo." Mas já traz uma grande vantagem, simplesmente por deslocar a ênfase para o domínio da relação 'Estado / mercado,' em vez da relação 'indústria / mercado.' O mesmo contraste também pode ser identificado no universo regulacionista.[16] Apesar de sua diversidade, um dos principais aspectos constantes nas abordagens regulacionistas destacados na revisão feita por Jessop (1990) foi justamente a preocupação com as formas e mecanismos que asseguram a reprodução ampliada do capital enquanto relação social. E, cinco anos depois dessa revisão, o mesmo autor procurou apontar as relações entre a teoria da regulação e a abordagem "governacionista," isto é, a confluência entre elaborações econômicas do 'novo institucionalismo' e elaborações políticas 'neo-corporatistas.'[17]

Mas a tendência em determinar a natureza de um modo de regulação mais por sua dimensão política do que por sua base industrial (como ocorre com a noção de 'fordismo'), também pode ser encontrada em outras análises. Tanto é que  Bruno Théret (1994) chega a rebatizar o modo de regulação da 'idade de ouro,' integrando suas três principais dimensões [welfare state - keynesianismo-democracia pluralista] no qualificativo "solidarista."

Sejam quais forem as denominações, ênfases, ou destaques, uma coisa é certa: muitas destas abordagens têm em comum a idéia básica de que o modo de regulação dos trinta gloriosos anos de prosperidade do capitalismo ocidental entrou em evidente processo de reciclagem a partir dos anos 1970. O que varia é a importância relativa atribuída às dimensões mais econômicas (consumo de massa, paradigma tecnológico) ou às dimensões mais políticas (democracia, 'welfare state').

Enfim, é errado identificar a teoria da regulação com as idéias muito em voga sobre o fordismo, sua crise e a chamada transição ao pós-fordismo. Jessop (1990) bem observou que nem todo estudo do fordismo é regulacionista e nem toda abordagem regulacionista se preocupa com o fordismo. As duas principais conclusões deste ensaio vão um pouco mais longe: (a) é preciso abandonar a idéia de fordismo para caracterizar o 'modo de vida total' da Idade de Ouro; (b) ainda está por ser feita uma boa caracterização do regime de acumulação e dos modos de regulação que prevaleceram na segunda metade do século 20 nas principais economias centrais.



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[1]   "Le fameux 'haut salaire' (...) est l'instrument qui sert à sélectionner une main-d'oeuvre adaptée au système de production et de travail, et à la mantenir stable. Mais le haut salaire est un instrument à double tranchant: il faut que le travailleur dépense 'rationellement' son salaire plus élevé, afin de maintenir, de rénover et, si possible, d'accroître son efficience musculaire et nerveuse, et non pour la détruire ou l'amoindrir." (Gramsci,1934:700)

[2]   O artigo de C. Palloix sobre o fordismo/neofordismo também é de 1976, mas sua influência foi ínfima se comparada à do livro de Aglietta.

[3]   A expressão fordismo vem sendo muito usada também por diversas tendências neoschumpeterianas, institucionalistas e marxistas.

[4]   "The passing age, with his heyday in the 1950s and 1960s, has been named 'Fordism,' a term coined to reflect loosely the pioneering mass production methods and rules of management applied by Henry Ford in his car factories in America during the 1920s and 1930s. Fordism is summarized as the age of 'intesive accumulation' with 'monopolistic regulation' of the economy. Although the term is applied at separate levels of analysis (industrial paradigm, regime of accumulation, mode of regulation, mode of societalization), it is its usage to synthesize a macrosystem which makes the regulaton approach most interesting and distinctive from the two other theories of transition." (Amin,1994b:9) As outras duas teorias são: a neoschumpeteriana e a da 'especialização flexível,' JEV.

[5]   O conjunto de regularidades que assegura a progressão geral e relativamente coerente da acumulação do capital (isto é, que permitem desfazer ou diluir no tempo as distorções e desequilíbrios gerados em permanência pelo próprio processo) consitui o 'regime de acumulação' (Boyer,1986:46). 'Modo de regulação' é o conjunto de procedimentos e comportamentos, individuais e coletivos, que permite: a) reproduzir as relações sociais fundamentais por meio de formas institucionais historicamente determinadas; b) sustentar e "pilotar" o regime de acumulação em vigor; c) garantir a compatibilidade dinâmica de um conjunto de decisões descentralisadas, sem que seja necessario que os atores econômicos assimilem os princípios de ajuste do conjunto do sistema. (Boyer,1986:54-55) Um regime de acumulação "descreve a estabilização, por um longo período, da alocação do produto líquido entre consumo e acumulação; ele implica alguma correspondência entre a transformação tanto das condições de produção como das condições de reprodução dos assalariados". Um sistema particular de acumulação pode existir porque "seu esquema de reprodução é coerente". O problema, no entanto, é fazer os comportamentos de todo tipo de indivíduos - capitalistas, trabalhadores, funcionários públicos, financistas e todas as outras espécies de agentes político-econômicos - assumirem alguma modalidade de configuração que mantenha o regime de acumulação funcionando. Tem de haver, portanto, "uma materialização do regime de acumulação, que toma a forma de normas, hábitos, leis, etc. que garantam a unidade do processo, isto é, consistência apropriada entre comportamentos individuais e o esquema de reprodução. Esse corpo de regras e processos sociais interiorizados tem o nome de modo de regulação." (Lipietz,1986:19 apud Harvey,1989)

[6]   'Paradigma industrial' é o padrão de organização da produção, incluindo tecnologia, administração, divisão de tarefas, relações de trabalho e de salário. 'Modo de sociabilização' é o conjunto de compromissos políticos, alianças sociais e processos hegemônicos de dominação presentes no sistema de integração e coesão social que garante a estabilização de uma determinada via de desenvolvimento. 'Modo de desenvolvimento' é a expressão mais geral da combinação entre o paradigma industrial, o regime de acumulação e o modo de regulação. (Amin,1994b: 8)

[7]   Brenner & Glick (1991); Page & Walker (1991); Sayer & Walker (1992); Goodman & Watts (1994); Page & Walker,(1995); Sayer,(1995); Walker (1995)

[8]   "This schema bears little resemblance to the actual course of events, and recent critiques have taken the Regulation school to task for its badly flawed account of U.S. economic history. Certainly, American capitalism did expand across the continent from Independance to the First World War. Nevertheless, economic growth during this period was powered by productivity increases derived from technical and organizational changes in production instituted by most small producers operating under reasonably competitive conditions. That is, development proceeded on the basis of improvements in methods of extending relative surplus value - or what the Regulationists call intensive accumulation - from the early 1800s, leading to the development of an important group of mass production industries by the middle of the 19th century."

"By failing to recognize the historical reach of intensive accumulation, Regulation theorists skip over a second and equally vital 19th century dynamic, rising consumption. Growth in productivity during this period translated into falling prices and rising real wages, leading to significant increases in workers' consumption and to the expansion of the world's most vigorous national consumer market. Thus, from the time of the Civil War at the latest, the national economy was characterized by the mass production and mass consumption of a broad spectrum of goods."   (Page & Walker,1995:9) (grifo meu, JEV)

[9]   "Here, Regulation theory's watershed separating extensive and intensive accumulation (placed around 1913 with the development of Ford's Highland Park plant) creates an artificially abrupt and patently false disjuncture in historical trends. (...)"

"The definition of Fordism as "Taylorism plus mechanization is wholly inadequate. To begin with, it does not distinguish Fordism from any other period of capitalist industrialization: Taylor was building on a long tradition of work rationalization and detail division of labor going back to the manufacturing of the 18th century; and mechanization had been applied to factory production from the first industrial revolution. In addition, Ford's assembly line goes well beyond Taylorism and mechanization. It was, in fact, a very specific set of work flow, dedication of specialized machinery, and finally, automation of the moving assembly line."

"The Regulationists' definition of Fordism also ignores the breadth of technical change outside metal-working and assembly industries. Certainly, the advent of Taylorism and Fordist assembly were leading components in the industrial revolution of the period 1890-1920, but they were not the only significant advances of the time. Eletrification (especially motors and controls), hard alloys and high speed machining, and better cost accounting, among other things played a big part." (Page & Walker,1995:11)

[10]   "The final problem with Regulation theory is that because of a limited comprehension of industril dynamics, it overemphasizes consumer demand and institutional coherence within a mode of regulation in the explanation of capitalist development. Regulation theory does not take its own precepts about raising labor productivity seriously before or after the Taylor-Ford revolution, which is virtually sui generis. As a result, the explanatory weight of the model is shifted to institutional conditions and away from technical change across a broad front. This is perhaps not surprising, as it seems that the Regulation approach is much less concerned with industrial change than it is with the stable balance between production and consumption within a mode of regulation - an essentially neo-classical, or at best Keynesian, view of economic growth." (grifos meus, J.E.V.)

"As a result, state policies and institutions are granted the central role in the process of agricultural restructuring. (...) In our view, however, regulation inspired interpretations overburden the postwar state, vesting a particular package of institutional changes with the historically unique power to create mass consumption and coordinate it with mass production. This cannot be so if mass production and mass consumption existed a century earlier in agriculture, as we have argued." (Page & Walker,1995:15-16)

[11]   "Regulation theory (...) is, rather, occupied with the quietest notions of balance between production and consumption and establishing stability through a mode of regulation. It is closer to neoclassical equilibrium theory than Marxian dynamics." (Walker,1995:173)

"Those revolutions - or shifts in technical frameworks - occur across groups of leading industries and spread widely during the course of a regime of accumulation. This is why a history of capitalism is necessarily a history of its industries, not just of modes of regulation." (Walker,1995:174)

"In short, the Regulationist argument rests too much on the coherence and stability of regimes of accumulation an not enough on the essential role of contradiction and unevenness in the dynamics of capitalist development." (Walker,1995:194)

[12]   "Let us consider some of the main senses and justifications of the term Fordism: 1)   A labor process involving moving assembly line mass production. 2)   A group of volume production sectors, including automobiles, steel, chemicals, dominant in terms of production of surplus value and propulsive in their effects on other sectors. 3)  An allegedly hegemonic form of industrial organization consisting of large integrated corporations and factories, sectoral oligopolies, and characterized by the production methods of 1. 4) A 'mode of regulation' (Aglietta,1979), in which mass consumption absorbs the output of mass production, thanks to productivity-related wages for core workers in Fordist industry (sense 2). *(nota 6) (...) *(6)   "Aglietta attempts to derive many other elements regarding money, the state and international relations, etc. We shall not address them since our focus is on production." (Sayer & Walker,1992:194) (grifos meus, JEV)

[13]   "From the end of World War II up to the early 1970s the world capitalist economy experienced a period o rapid economic growth and capital accumulation which was unprecedented in scope. This long-wave boom - sometimes labelled the postwar 'golden age' of world capitalism - was followed by a period of generalized economic crisis extending into the early 1980s. Whether this crisis is continuing up to the present time or, alternatively, anew period of boom began in the 1980s, remains a matter of some controversy. What is clear, however, is that - partly as a consequence of the economic crisis in the 1970s - the institutional structure of the capitalist mode of production has undergone some important changes in recent years." (Weisskopf,1991:75) (grifos meus, JEV)

[14]   "The institutional structure of the advanced capitalist economies in the first three decades following World War II could aptly be described as 'welfare state capitalism.' During this period, for the first time, all the major features of the welfare state werein place (to different degrees, of course, in different countries). These welfare state features included a government commitment to maintain relatively high employment by means of Keynesian demand management, an extensive public system of social security, public provision for unemployment compensation, and in general an important role for the state both as purchaser and allocator of goods and services and as regulator of private businesses and labor markets." (Weisskopf,1991:75)

[15]   "With the growing economic crisis fo the 1970s, however, pressures began to mount to change some of the basic structural characteristics of the post-World War II advanced capitalist economies. Right-wing political forces were successful in attributing much of the blame for the crisis to the 'excesses' of the welfare state, and by the late 1970s and early 1980s right-wing parties desirous of cutting back the economic role of the state had scored significant political successes in national elections in many of the adavanced capitalist countries. Especially notable were the electoral victories of Margaret Thatcher in the United Kingdom in 1979 and Ronald Reagan in the United States em 1980; their parties and ideological positions have remained dominant up to the present time. Most centrist and left-wing parties, feeling the pressure from the Right, have also modified their own economic policy positions in directions that would curb the extent and impact of the welfare state."

"Contributing significantly to these changes has been the growing international economic integration of the world capitalist system. Active international markets for capital as well as goods and services have put increasing competitive pressure on business firms everywhere, and - most important - they have made it more difficult for individual governments to maintain national policies of any kind. In this context political coalitions supporting the major elements of welfare state capitalism have lost much ground to their neoconservative rivals, who favor further integration into the global market and the unleashing of market forces everywhere."

"In view of all these developments, I think it fair to conclude that post-World War II system of welfate capitalism has given way in the 1980s to a new type of system in the advanced capitalist nations. The new system does not dispense with the welfare state, but it reduces significantly the economic role of the nation-state and it gives pride of place to market forces on a world scale. To characterize this new system, I will use the label 'global market capitalism.'" (Weisskopf,1991:75-76)

[16]   Formado por uma dezena de "escolas": três francesas (Grenoble, Paris, CME), uma holandesa (Amsterdam), uma alemã, uma nórdica, duas ou três americanas (SSA, geógrafos, Piore & Sabel), conforme Jessop(1990); às quais deve ser acrescentada pelo menos uma britânica, na sequência da publicação do número especial de Economy and Society (1995: agosto, v.24, n.3).

[17]   Essa convergência regulacionismo-governacionismo pode ser vista como característica da escola britânica, cujas principais preocupações atuais são sintentizadas na introdução do referido número especial de Economy and Society (1995,agosto,v.24,n.3) .



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